09/10/2019
1907: CHARLES LAVERAN


Artigo científico escrito por: 
Mariana F. Mattioni e Marília S. Candaten
Faculdade de Medicina - UPF


Resumo


Este trabalho bibliográfico sobre Charles Louis Alphonse Laveran busca compreender e estudar a vida de pesquisadores que ganharam o Prêmio Nobel de Medicina por suas descobertas e contribuições na área médica. Laveran (1845-1922), físico francês, patologista e parasitologista, descobriu o parasita que causa a malária humana. Por este, e outros trabalhos posteriores sobre doenças causadas por protozoários, recebeu o Prêmio Nobel de Fisiologia Médica em 1907. Enquanto servia como um cirurgião militar na Argélia, em 1880, Laveran descobriu a causa da malária através do desenvolvimento de autópsias que conduzia nas vítimas dessa doença. Ele achou que o organismo causador era um protozoário, mais tarde nomeado Plasmodium. Laveran tinha uma influência poderosa no desenvolvimento de pesquisas na medicina tropical, seguindo trabalhos proveitosos nas tripanossomíases e outras doenças causadas por protozoários, assim como seu trabalho sobre a malária. 
Palavras–chave: Charles Louis Alphonse Laveran, Prêmio Nobel, malária, protozoários
Abstract
 This bibliographic work about Charles Louis Alphonse Laveran intends to understand and to study the researchers’ life which won the Nobel Prize for Medicine because their discoveries and their contributions in the Medicine field. Laveran (1845-1922), French physician, pathologist, and parasitologist who discovered the parasite that causes human malaria. For this and later work on protozoal diseases he received the Nobel Prize for Physiology or Medicine in 1907. While serving as a military surgeon in Algeria in 1880, Laveran discovered the cause of malaria in the course of the autopsies he conducted on malaria victims. He found the causative organism to be a protozoan, it was later named Plasmodium. Laveran was a powerful influence in developing research in tropical medicine, carrying on fruitful work in trypanosomiasis and other protozoal diseases, as well as his epochal work in malaria.
Key words: Charles Louis Alphonse Laveran, Nobel Prize, malaria, protozoa 

Introdução


Neste trabalho relataremos a vida e pesquisa de Charles Louis Alphonse Laveran até chegar à descoberta do parasita causador da malária. Procuramos explicitar a história e importância de grandes pesquisadores da área da saúde que, com suas descobertas, contribuíram para os avanços da medicina. Nossa revisão bibliográfica desse ganhador do Prêmio Nobel busca despertar nosso espírito crítico e nos incentivar à realização de pesquisas. Como estudantes do primeiro ano do curso de Medicina, é importante que conheçamos o máximo de pesquisadores passados e, como não há nenhum trabalho conhecido sobre os ganhadores do Prêmio Nobel de Medicina, estamos levantando tal revisão bibliográfica.
Temos como objetivo analisar a história desse grande pesquisador e o desenvolvimento de sua pesquisa, mostrando a importância de suas descobertas para a medicina atual. 

Desenvolvimento


A malária é uma doença infecciosa aguda potencialmente grave causada por parasitas (protozoários do gênero Plasmodium) que são transmitidos, de uma pessoa para outra, pela picada da fêmea do mosquito do gênero Anopheles. Antes da descoberta do protozoário, a malária tinha uma grande importância no sul do continente europeu, particularmente na Grécia e na Itália. As febres causadas por ela em muitas localidades tornaram-se a doença dominante e estava em primeiro lugar nas causas de morbidade e mortalidade, constituindo também um obstáculo para a adaptação de estrangeiros nessa região. Essas febres tinham origem desconhecida até então. As pesquisas de Laveran levaram-no à descoberta da sua causa, que está nos parasitas que se alojam nas hemáceas do sangue humano. 
Charles Louis Alphonse Laveran nasceu em Paris no dia 18 de junho de 1845, na casa que era anteriormente localizada na rue de l’Lest número 19 e que atualmente, depois que o distrito foi reconstruído, se localiza um hotel, cujo endereço é rua Boulevard St. Michel número 125. Seu pai e seu avô paterno eram médicos. Seu pai, o Dr. Louis Théodore Laveran, era doutor do exército e professor no École de Val-de-Grâce, sua mãe era filha e neta da mais elevada categoria social de comandantes do exército. Quando era muito jovem, Laveran foi com sua família para a Argélia. Seu pai retornou à França como professor no École de Val-de-Grâce, no qual se tornou diretor na categoria de Inspetor Médico do Exército. Laveran, depois de completar sua educação em Paris no Collège Saint Baube e mais tarde no Lycée Louis-le-Grand, desejou seguir a profissão do seu pai e, em 1863, entrou na Escola de Saúde Publica de Strasbourg, onde freqüentou o curso por 4 anos. Em 1866, ele foi nomeado estudante de residência médica dos hospitais civis de Strasbourg. Em 1867, submeteu uma tese sobre a regeneração dos nervos. Em 1870, quando a guerra franco-germânica estourou, Laveran era o principal assistente médico e foi emitido ao exército em Metz como oficial da ambulância. Fez parte nas batalhas de Gravelotte, de Saint-Privat e no sítio de Metz. Depois disso voltou à França e se juntou, primeiramente, ao Hospital Lille e então ao Hospital São Martim em Paris. Em 1874 foi apontado, após um exame competitivo, para a cadeira de doenças e de epidemias militares no École de Val-de-Grâce, ocupada previamente por seu pai. Em 1878, quando seu período na função tinha terminado, foi emitido a Bône na Argélia e permaneceu lá até 1883. Foi durante esse período que ele realizou suas principais pesquisas sobre o protozoário humano da malária, primeiro em Bône e depois em Constantine.
Quando estava na França, Laveran viu apenas formas raras e benignas das febres da malária. Porém, na Argéria, um grande número de seus pacientes teve as febres da malária e ele pôde estudá-las. Teve a oportunidade de fazer necropsias em pacientes mortos pela maligna febre e estudar a melanina e a formação de pigmentos pretos no sangue dos pacientes afetados pela malária. Esta melanina tinha sido descrita por muitos observadores, mas as pessoas ainda estavam em dúvida sobre a constância de alteração na malária e sobre as causas da produção desse pigmento.
Laveran ficou surpreso com as características especiais desses pigmentos escuros presentes especialmente nos capilares do fígado e nos centros cérebro-espinhais e tentou prosseguir o estudo do sangue das pessoas afetadas pela febre da malária. Encontrou no sangue: leucócitos mais ou menos impregnados com o pigmento e mais corpos de pigmentos esféricos de variados tamanhos com movimentos amebóides, livres ou aderidos às células vermelhas; corpúsculos não pigmentados formando bolinhas claras nas células vermelhas; finalmente elementos pigmentados, crescentes em forma, chamaram sua atenção, e então ele supôs que fossem parasitas.
Em 1880, no Hospital Militar de Constantine, Laveran descobriu, nas bordas dos corpos esféricos pigmentados do sangue dos pacientes que sofriam da malária, elementos filiformes parecendo-se com flagelados, os quais se moviam muito rapidamente, deslocando-se contíguos às células vermelhas. Não teve mais dúvidas da natureza dos parasitas que havia encontrado; descreveu a aparência principal dos hematozoários, enviados em memorando para a Academia de Medicina, a Academia de Ciências (1880 – 1882) e uma monografia intitulada: Nature parasitaire des accidents de l'impaludisme, description d'un nouveau parasite trouvé dans le sung des malades atteints de fièvre palustre, Paris, 1881.
Suas primeiras comunicações sobre os parasitas da malária foram recebidas com muito ceticismo. 
Em 1879, Klebs e Tommasi Crudeli tinham descrito com o nome de Bacillus malariae,um bacilo encontrado no solo e na água dos locais de malária e um grande número de observadores italianos publicaram artigos confirmando o trabalho desses autores.
Os hematozoários que Laveran tinha dado como os agentes da malária não se pareciam com bactérias e estavam presentes em formas desconhecidas, estando completamente fora do círculo de micróbios patogênicos conhecidos, e muitos observadores não sabiam como classificá-los, achando mais simples duvidar da sua existência.
Em 1880, a técnica de exame de sangue era, infelizmente, muito imperfeita, o que contribuiu para a prolongação da discussão relativa aos novos hematozoários. Era necessário aperfeiçoar a técnica e inventar novos procedimentos de coloração para demonstrar sua existência.
Investigações confirmatórias, primeiramente raras, se tornaram mais e mais numerosas; ao mesmo tempo parasitas endoglobulares foram descobertos em diferentes animais, os quais se pareciam muito com os hematozoários da malária. Em 1889, o hematozoário de Laveran foi encontrado na maior parte das regiões de malária e não era mais possível duvidar da sua existência e da sua ação patogênica. No mesmo ano, a Academia de Ciências concedeu-lhe um prêmio pela descoberta dos parasitas da Malária.
Muitos observadores, antes de Laveran, tinham buscado, sem sucesso, a causa da malária, e ele também teria falhado se tivesse se contentado em examinar somente o ar, a água e a terra das localidades da malária, mas ele levou em conta a anatomia patológica e o estudo do sangue de pacientes com a doença assim, atingiu sua meta.
 Depois da descoberta do parasita da malária no sangue dos pacientes, uma pergunta importante permaneceu ainda a ser resolvida: em que estado existem o hematozoário fora do corpo e como a infecção acontece? A solução deste problema requereu muito tempo e pesquisas laboratoriais. Depois de ter tentado descobrir o parasita no ar, na água, ou nas terras de áreas de malária e tentando cultivar isto nas mídias mais variadas, Laveran se convenceu de que o micróbio já estava presente fora do corpo humano em um estado parasitário e, muito provavelmente, como um parasita de mosquitos.  
 Ele avançou esta opinião em 1884 em seu Traité des fièvres palustres (Tratado em febres de malária) e voltou a isto em várias ocasiões. Em 1884, também foi nomeado professor de higiene militar na École de Val-de-Grâce. 
Laveran indicou a rota clara que era necessário seguir para chegar à meta; procurar o que restava do parasita no corpo dos mosquitos que tinham chupado o sangue infectado por malária. Já tendo saído dos países da malária, não foi possível para ele fazer essa descoberta, fato que ficou a cargo do pesquisador Ronald Ross, que demonstrou que os hematozoários da malária e o íntimo Haemamoeba malariae de pássaros completam várias fases da sua evolução no Culicidae e são propagados por estes insetos.
Hoje as transformações que o parasita da malária sofre em mosquitos do gênero Anopheles são bem conhecidas e não há nenhuma dúvida no papel que estes insetos fazem na propagação da malária.
Em 1894, quando seu período no cargo de professor estava acabando, Laveran foi nomeado secretário médico principal do Hospital de Lille e então diretor dos serviços de saúde do 11º corpo da armada em Nantes. Ele não tinha um laboratório e nem pacientes, mas queria continuar suas investigações científicas. Obteve o cargo de secretário médico principal da primeira classe e, em 1896, entrou no Instituto Pasteur como chefe do serviço honorário.
Em 1899, seu trabalho principal sobre a malária teve como o objetivo o estudo do Culicidae, sua relação com a endemia da doença, e a profilaxia racional deste mal terrível.  Estudou o Culicidae na França e nas colônias francesas e pôde mostrar em uma série de anotações publicadas na Academia de Ciências, e à Sociedade de Biologia, que o Anopheles pode ser achado em todas as localidades da malária. De 1897 até 1907, realizou muitas pesquisas originais sobre o Hematozoário endoglobular, o Esporozoário e o Tripanossomo.
Desde 1900, estudou principalmente os Tripanossomos e publicou, independentemente ou em colaboração com outros, um grande número de artigos sobre esses parasitas do sangue. Estudou, primeiramente, os tripanossomos de vários animais e, finalmente e especialmente, o tripanossomo que causa a terrível doença endêmica da África Equatorial conhecida como a doença do sono.
Tripanossomos são protozoários, muito diferentes dos hematozoários endoglobulares; eles vivem em estado livre no plasma e não em um estado de inclusão nas células vermelhas ou em outros elementos anatômicos; eles pertencem à classe dos flagelados. O trabalho de Laveran (não completado) sobre o tratamento das doenças causadas por tripanossomos, e especialmente em infecções pelo Tr.gambiense, já tiveram importantes resultados.
Em 1907, Laveran ganhou o Prêmio Nobel pelo seu trabalho com os protozoários como causa de doenças e deu metade do prêmio ao Laboratório de Medicina Tropical do Instituto Pasteur.
O Prêmio Nobel é um prêmio internacional dado desde 1901 por realizações feitas na área da Física, Química, Medicina, Literatura e para a Paz. Em 1968, o Banco da Suécia instituiu o Prêmio em Ciências Econômicas em memória a Alfred Nobel, fundador do Prêmio Nobel. 
Os ganhadores do Prêmio são anunciados em outubro todo ano. Eles recebem seus prêmios (uma prêmio quantitativo, uma medalha de ouro e um diploma) no dia 10 de dezembro, data do falecimento do Nobel.
Em 1908, Laveran fundou a Sociedade de Patologia Exótica, a qual presidiu por 12 anos. No entanto, não abandonou seu interesse pela malária.
Para resumir, Laveran não cessou, por 27 anos, seus trabalhos sobre os protozoários patogênicos e o campo que ele abriu com sua descoberta sobre os parasitas da malária tem aumentado progressivamente. As doenças causadas por protozoários constituem hoje um dos capítulos mais interessantes na patologia médica e veterinária.
Laveran foi, em 1893, eleito como um membro da Academia de Ciências. Também se tornou, em 1912, comandante da Legião da Honra. Durante os anos de 1914 até 1918, fez parte de todos os comitês, preocupado com a manutenção da boa saúde das tropas, visitando unidades do Exército, compilando reportagens e instruções apropriadas. 
Em 1885, casou-se com Mlle. Pidancet. Em 18 de maio de 1922, faleceu depois de uma doença que durou vários meses. 
Conclusão
A criação desse artigo nos possibilitou um maior conhecimento sobre um dos grandes pesquisadores na área da Medicina e como ele procedeu na sua pesquisa.
A partir dessa revisão bibliográfica concluímos que Charles Louis Alphonse Laveran teve grande importância para a medicina e medicina veterinária ao descobrir o protozoário que causa a malária e assim contribuindo para a futura descoberta do tratamento e prevenção dessa doença. Além disso, incentivou outros pesquisadores a estudarem os protozoários, sendo hoje conhecidos 150 espécies que podem causar doenças em diferentes hospedeiros vertebrados. 
O Prêmio Nobel teve importância na divulgação de seus achados e como reconhecimento pelo seu trabalho científico. Esse Prêmio também representa um estímulo a novos pesquisadores que buscam respostas para questões que hoje são obscuras na área da saúde, contribuindo para o progresso nessa área. 

Bibliografia
Nobel Prize. Disponível em: . Acesso em: 02 setembro 2005
Wikipedia. Disponível em:. Acesso em: 03 de setembro de 2005.
Orientadores: Evânia de Araújo
                       Jorge Salton 
 

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